Durante as obras de restauro do Cruzeiro Franciscano, localizado na Praça Dom Pedro I, foi encontrado na parte interna do bulbo do monumento, um ninho de abelhas nativas sem ferrão. Com o intuito de preserva-las, os especialistas do restauro entraram em contato com a Secretaria de Meio Ambiente que indicou técnicos para fazerem a remoção e realocar as abelhas ao seu habitat. A remoção ocorreu na última terça-feira (14/09) e contou com o trabalho do apicultor e bombeiro civil Jonathas Viana, do técnico em meio ambiente John Lenon Barbosa, acompanhados pela bióloga Doutora Cláudia Renata Madela-Auricchio e do zoólogo Doutor Paulo Auricchio.
A retirada se fez necessária pois, os vãos que as abelhas estavam habitando serão fechados para evitar infiltrações e futuros danos ao Cruzeiro, já fragilizado pela idade e intempéries. “Durante o trabalho notei que as abelhas entravam em uma fresta da base do Cruzeiro. Como essa abertura será fechada, achei que seria correto removermos a colmeia de lá para que fossem levadas para um local adequado. Em contato com o Júlio Moraes, responsável pelo restauro, ele concordou que deveríamos resgata-las, assim entramos em contato com a Secretaria de Meio Ambiente que nos indicou as pessoas corretas para fazer o resgate”, contou Ana Cristina Jacinto Tabanez, restauradora que está trabalhando no local e que acompanhou o resgate emocionada.
Segundo Doutora Cláudia existem cerca de 1800 espécies de abelhas no Brasil e as encontradas no Cruzeiro são Friesella schrottkyi, abelha sem-ferrão conhecida popularmente como mirim-preguiça, pois não saem da colmeia quando a temperatura está abaixo dos 20°. Em algumas regiões do Brasil, as pessoas também chamam essa abelha de “mosquitinho” pelo seu tamanho de apenas 3mm. “A mirim-preguiça, como todas as outras abelhas nativas do Brasil, estão ameaçadas pela destruição de seus habitats. É importante que as pessoas da cidade não destruam seus ninhos e, em caso de necessidade, deve-se chamar pessoal autorizado para fazer a remoção e leva-lo para um local seguro. Vale lembrar que a remoção de ninhos de abelhas ou qualquer outro animal encontrado na cidade deve ser feito por pessoal treinado e autorizado. Capturar ou remover animais e plantas silvestres sem autorização é crime ambiental”, comentou. Na dúvida o munícipe pode entrar em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente pelo telefone 4025-1412.
Na natureza costumam fazer seus ninhos em ocos de árvores, mas se adaptaram bem nas áreas urbanas construindo seus ninhos em frestas de construções, dentro de tijolos vazados e muros de pedra, pois seus ninhos costumam ser pequenos e pouco numerosos, em torno de 300 indivíduos.
“O pessoal do restauro do Cruzeiro Franciscano de Itu teve uma atitude excepcional. Normalmente quando pessoas que estão trabalhando em obras e encontram abelhas, não querem interromper o trabalho e acabam matando as colmeias. Isso também vale para outros animais, como as aves, que também costumam nidificar em construções. Realmente, a equipe do restauro está de parabéns pela atitude e consciência. Espero que eles sirvam de exemplo do que se deve fazer”, destacou Doutora Cláudia.
A abelhas são fundamentais para a produção de grande parte dos alimentos, a produção do mel é a menor das contribuições que esses pequenos animais podem dar para espécie humana. Sem seu trabalho a produção agrícola fica prejudicada, pois em diversas lavouras são fundamentais para a polinização. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura 70% das culturas de alimentos depende das abelhas.
Sua preservação também se faz necessária pois, as mudanças climáticas, as mudanças bruscas de temperatura e umidade que bagunçam as floradas, o aumento da emissão de gases de efeito estufa, grandes áreas com uma única cultura (a espécie necessita de alimentação variada para sobreviver) colaboram para seu desaparecimento.
Para ajudar as abelhas as pessoas podem cultivar em suas casas plantas aromáticas como manjericão, orégano, girassol, hortelã, alecrim, dente-de-leão, tomilho, entre outras.