“Trabalhar em Itu foi uma experiência única, uma sensação de pertencimento e de responsabilidade, cuidado com nosso patrimônio”, destacou Gilberto Guitte Gardiman
A primeira fase de restauro do Cruzeiro Franciscano foi concluída na última sexta-feira (23/01). Os artefatos encontrados farão parte do acervo Museu e Arquivo Histórico Municipal (Mahmi) “Synésio de Sampaio Góes” mas, antes disso serão analisados e catalogados e, posteriormente, farão parte de uma exposição.
A partir dos relatórios que serão emitidos pela arqueologia, que subsidiarão de mais informações para tomadas de decisões quanto aos procedimentos de restauro a serem aplicados no monumento e seu entorno, a obra será retomada, o que está previsto para ocorrer dentro de aproximadamente 15 dias.
Todas essas etapas e suas execuções são aprovadas pelos órgãos de preservação do patrimônio como Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A empresa que estará à frente desse processo será a Júlio Moraes Conservação e Restauração, a mesma que realizou o restauro da igreja Matriz Nossa Senhora Candelária.
Vale ressaltar que para a realização do restauro desse tão importante bem cultural e artístico foi montada uma comissão científica para o acompanhamento do processo de restauro com integrantes da Secretaria Municipal de Cultura e do Patrimônio Histórico de Itu, do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio da Estância Turística de Itu, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, da Universidade Estadual de São Paulo “Júlio de Mesquita Filho”, da Universidade Estadual de Campinas e da Universidade de São Paulo.
Dando continuidade às atividades que envolvem a população junto ao que está sendo realizado na Praça Dom Pedro I, em breve ocorrerá um curso on-line gratuito com a equipe de arqueologia que esteve no Cruzeiro. As inscrições, quem poderá participar e números de vagas serão divulgados em breve.
Ituanos no restauro
Durante o processo da arqueologia, moradores da cidade foram integrados ao grupo de trabalho. Um deles foi Gilberto Guitte Gardiman, 66, que ficou sabendo por meio da divulgação feita pela Prefeitura de Itu, que os munícipes interessados poderiam ir até o local para conhecerem os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos no Cruzeiro. Foi então que passou pelo local para conversar com os arqueólogos e, durante o bate-papo, contou que havia estudado arqueologia. Convidado para participar, passou a fazer parte da equipe. ”Trabalhar em Itu foi uma experiência única, uma sensação de pertencimento e de responsabilidade, cuidado com nosso patrimônio”, destacou.
Gardiman é ituano e formado em engenharia de alimentos e em antropologia com habilitação em Arqueologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais. “Descobri a área da Arqueologia da Alimentação e me concentrei em análises de microvestígios (grânulos de amido). Desenvolvi em paralelo trabalhos de campo e análise laboratorial”, comentou.
Durante o trabalho de peneiração que realizou teve a oportunidade de encontrar fragmentos de cerâmica, provavelmente indígenas, um pequeno fragmento de mica e material construtivo genérico. “As grandes surpresas aconteceram ao desenhar os croquis, em especial da base do Cruzeiro. Ficaram evidentes o preenchimento de terra e pedaços de varvito na base do grande bloco, a constituição da ‘sapata’ instalada no entorno da base e, abaixo do nível do solo atual, vestígios muito nítidos de pelo menos um piso de tijolos, também presente no lado oposto do Cruzeiro. Além disso, foram evidenciados alguns tijolos dispostos em círculo, possivelmente remanescentes de uma floreira que se via ao redor do monumento em foto de 1920”, contou Gardiman.
“Além dessas estruturas pude apreciar outros resultados do trabalho: amostras dos fragmentos de artefatos recolhidos, vestígios de um antigo muro, presença de um grande piso de pedras e também resquícios de um solo de chão batido”, concluiu.
Roberto Sobral Romero, 54, natural de São Caetano do Sul, mas que atualmente mora em Itu, também participou das escavações. Romero é restaurador e artesão de peças em madeira e, durante seu trabalho também encontrou artefatos de cerâmica, faianças inglesa e chinesa, uma medalha religiosa e pregos antigos. “Trabalhei nas escavações do primeiro ao último dia, foi gratificante e realizador”, comentou.
Romero esteve presente durante as descobertas dos assentamentos de pedras, que pode estar relacionado com a construção que existia no entorno da cruz e foi retratada pelo artista ituano Miguelzinho Dutra. “Foi uma experiência e aprendizado para levar por toda a vida”, concluiu.